Quando
uma morte acontece, a vida toda fica por alguns segundos em suspenso. Segundos
que podem durar uma vida ou uma eternidade. Durante esse momento, você fica
preso em algum lugar entre o presente e o passado, sem noção alguma da dimensão
espaço-tempo.
Quando
uma morte acontece, a casa inteira fica triste e tudo o que se faz de diferente
é apenas um lapso dentro da tristeza contínua.
Quando
uma morte acontece, de repente seus melhores amigos se tornam as pessoas mais
incompreensíveis do mundo. De repente, começam a falar sobre assuntos
completamente irrelevantes. E as outras pessoas demonstram uma extrema
insensibilidade, por estarem ocupadas com suas próprias vidas.
Quando uma morte acontece, é absolutamente ineficaz tentar executar tarefas. Pois todas estas mostram desde o início sua ausência de sentido primordial.
Quando uma morte acontece, é absolutamente ineficaz tentar executar tarefas. Pois todas estas mostram desde o início sua ausência de sentido primordial.
Quando
uma morte acontece, falar é algo desnecessário, pois isto tudo contém uma
simbologia ampla e própria. E é um absurdo que o mundo exija maior comunicação.
Quando
uma morte acontece, as mulheres belas não saem às ruas, as pessoas em geral
evitam olhar em seus olhos e o dia se acinzenta e chove em sinal de respeito.
A
morte expõe violentamente as entranhas do fenômeno de estar vivo. Grita
estridentemente a fragilidade em ser humano. Ela desterritorializa toda a
ontologia do saber e faz jorrar questionamentos tão juvenis quanto hamletianos.
A
morte choca apesar de sua naturalidade.
É
bastante provável que a morte seja o segundo acontecimento mais comum que
exista na vida. Perdendo em números somente para o nascimento, estima-se.
Na
última semana, ocorreram aproximadamente 15.071 mortes em todo o mundo, 1.600
em conflitos na síria, cerca de 84 palestinos morreram em ataques israelitas na faixa de
Gaza, houveram em torno de 63 mortes na onda de crimes em São Paulo.
Mas na minha vida, foi apenas uma.
*À memória de Clóvis Lima