A gargalhada gostosa de uma criança escutada ao fundo. O jeito de andar altivo daquela mulher elegante. O refrão de uma música ou uma frase escutada que insiste em não sair da cabeça. São dessas pequenas coisas que partem a maioria dos textos aqui publicados. Pequenas coisas que acontecem todo dia à todo momento. Comigo, não necessariamente comigo, com você e com qualquer outra pessoa que se arrisque no perigoso movimento de respirar. Um movimento simples e corriqueiro, tal qual lavar roupa no final de semana.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Fábula


     Sonho com o dia no qual o mundo se extinguirá repentinamente; digo o chamado “mundo virtual”. Cresce em meus devaneios imagens completamente apocalípticas de um colapso informacional. Gostaria muito que o desejo de ter e saber tudo implodisse o alcance da chamada era digital.
     Este dia aconteceria perto de algum dos grandes dias especiais, que inventaram para marcar os sub-períodos especiais que temos em nosso calendário inventado. Que tal o natal? Ou o ano novo? Já que 21/12/12 foi uma furada, quem sabe?
     Logo pela manhã, já acordaremos todos desbaratados, pois não saberemos as horas e iremos perder os compromissos e prazos. Tudo porque os satélites artificiais errarão as coordenadas e não saberão nos dizer a posição do sol e do eixo magnético da terra.
     Ao sair de casa para o trabalho ou estudo, o trânsito estará mais louco que a loucura habitual. Pois os semáforos estarão todos apagados e quem quiser passar terá de conseguir consenso.
     E isto não será nada perto do pior. O mundo inteiro arrefecerá de medo diante da sepulcral e trágica última notícia: aqui jaz o cyberespaço. Carmelitas descalças chorarão até o fim dos “bites”; especuladores monetários arrancarão todos os fios de cabelo implantado; indústrias irão cessar completamente; a depressão tomará conta de todos que perderão seus mais de 500 amigos; não haverá quem dite o que comer, vestir, falar, pensar.
     Neste dia, finalmente, o rei saberá que está nu. Todas as informações do mundo entrarão em colapso. Nós descobriremos que no fundo somos sós. E será com profundo terror e pesar que lamentaremos grandemente o fato de não termos informações em tempo real sobre tudo o que acontece no interior da Conxinxina do Sul.








domingo, 9 de dezembro de 2012

Questão de ataque


     Se tu quiseres escrever um texto sobre um tema qualquer, seja ele científico ou não, a primeira coisa que se exige não é conhecimento nem imaginação, mas sim coragem.
     Nada disso de fazer emboscadas, de só andar em grupo ou pelos caminhos seguros. Nada de ficar esperando pacientemente pelas palavras. Elas são sorrateiras, escorregadias, ardilosas. Cheias de diferentes figuras e camuflagens, cheias de artifícios, armadilhas, artimanhas, arapucas... ara! Palavra assim a gente vai e ataca!
     Não tenhas pena, não. Pois é preciso ter pulso. Puxar pela ponta da letra, arrancar pela raiz e atingir até as derivadas se for preciso. Porque o mais importante é ensiná-las quem está regendo o texto.
     Segue mais um aviso: é necessário fazê-lo rápido. Arrisca-te com a ponta da caneta tão logo as aviste, pois estas danadas têm por dom fugir o mais depressa que podem. E elas podem muito.