Estava pensando sobre aquilo que
preciso, sobre aquilo que eu realmente preciso se algum dia pensar em viver um
pouco mais de tempo. Estava pensando... sobre aquilo que é o mínimo possível
para que eu consiga seguir em frente e me manter em pé. Como acredito que a
vida por si só já é complicada o suficiente para ficar complicando ainda mais;
como tenho a constante preocupação e vigilância em ter em mente que eu não sou
para sempre; e, além disto, como estas duas noções conjugadas me fazem descrer
e desistir da lógica de acúmulo de bens capitalista, decidi pensar sobre o meu
mínimo necessário. Não sei para daqui a quanto tempo este plano deve ser
traçado, mas espero simplesmente daqui a algum tempo deitar a cabeça no
travesseiro e ter a honradez de possuir ao menos isto.
Poderia
dizer que passei horas infindáveis de meus dias debruçada sobre esta
problemática, mas, na verdade, não demorei mais que alguns singelos minutos
para chegar a esta minimalista conclusão: eu só preciso de um quarto e uma
varanda. Um quarto para ser somente meu, para ser eu e para ser só. E uma
varanda para ser dos outros, para me expandir e para entrar em comunhão. Como
um pêndulo eu me alternaria entre o fundo solitário dos lençóis de minha cama e
o abraço esplêndido em direção ao céu, quase caindo na multidão.
Pode
parecer loucura unir dois extremos de maneira tão próxima assim, mas acaso eu
afirmei em algum momento não ser louca? Esta “geografia sintética” seria a
própria tradução da loucura imanente à vida. Acredito que não precisaria de
nada além disso. Se quisesse me isolar por querer ficar á sós comigo ou por
estar enraivecida com os outros, teria este meu quarto, este meu canto. Poderia
fazer dele o que quisesse: enchê-lo de cacarecos e quinquilharias, de pessoas,
de pensamentos, abarrotá-lo de poluição visual e sonora; ou esvaziá-lo de tudo,
deixá-lo totalmente branco, totalmente insípido e casto.
Em
outros momentos, quando pensar fosse difícil e se manter firme fosse doloroso
ao corpo, poderia simplesmente me deixar estar. Iria à varandinha olhar a
avenida e ver que existem outros além de mim. Poderia me deixar ser
contemplativo e estético, extraordinário e divino, cosmopolita e pagão.
Acredito que seria reconfortante perceber não estar sozinho e passar alguns
bons momentos “zen-pensamentos”. E, para quando me suportar fosse incrivelmente
insuportável, sempre haveria o mundo. Sempre haveria uma infinidade de outros
possíveis lugares e pessoas a descobrir.
Retornando
ao ponto de partida: se meus sonhos caírem, se minhas ilusões dissiparem-se, se
minhas convicções transfigurarem; se após várias voltas não me restar nada
disto, que possa ao menos manter nesta vida uma varanda e um quarto.
*Foto-inspiração