A gargalhada gostosa de uma criança escutada ao fundo. O jeito de andar altivo daquela mulher elegante. O refrão de uma música ou uma frase escutada que insiste em não sair da cabeça. São dessas pequenas coisas que partem a maioria dos textos aqui publicados. Pequenas coisas que acontecem todo dia à todo momento. Comigo, não necessariamente comigo, com você e com qualquer outra pessoa que se arrisque no perigoso movimento de respirar. Um movimento simples e corriqueiro, tal qual lavar roupa no final de semana.

sábado, 17 de março de 2012

Mera questão estatística

            “Às vezes ele dura, às vezes, ao contrário, ele fere”. Nunca vi uma definição melhor para essas coisas de amor, ou disso que assim chamamos. Nunca havia visto nada tão certo. Às vezes ele dura, sim, e é muito bonito quando isso acontece. Não se trata exatamente do tipo físico, do status, nível de renda ou aspectos exteriormente encantadores. Trata-se de algo vivido entre dois seres humanos, algo vivido de verdade, duas pessoas que se mostram (algo tão raro entre este tipo de ser) e que dada a incompatibilidade estatística de algo neste nível acontecer dentro de um espaço temporal inferior a... muito tempo, deve ser sim respeitado. Não acontece todo dia, é um tipo de sentimento merecedor de respeito e reverência.
            Quando não dura, inevitavelmente, fere. Pensando assim isto parece mesmo ser loucura. Essa história de se apaixonar e de amar alguém. Se for realmente parar para pensar é algo absurdo. Como podemos nos arriscar neste tipo de relação que tem em sua probabilidade uma imensa porcentagem de fracasso? Que espécie de idiota se arriscaria nisto que obviamente irá feri-lo? Mas aí é que está: isso não é calculado. Lembra-me muito uma caixinha de surpresas, pior, um jogo de azar. Faz-me ver o quanto isso é mesmo uma grande sorte: conseguir achar alguém de quem você realmente goste, que realmente goste de você, com quem você esteja disposto a se envolver e vice-e-versa; e além de tudo isso, que esse envolvimento seja harmonioso. Isso é tão pouco provável!
            Acho que só procuramos isso porque não nos damos conta que se trata de uma missão impossível. Eu não sei o que nos move. Tentando olhar isso de uma maneira afastada, é loucura. Eu não sei por que nós continuamos fazendo isso. Parece uma busca do tesouro perdido, todos correndo atrás, todos buscando algo que a grande maioria nem sabe o que é e que provavelmente jamais saberá. Mas todos correm, todos vão atrás. Por quê? Eu realmente não sei. Acho que somos loucos.
            Isso é mesmo uma grande sorte, sim, uma grande sorte. Mas se é tão impossível, por que tentar então? O quê nos leva a correr atrás disso? O quê nos leva a querer tanto uma outra pessoa? É tão absurdo! Corremos todos atrás de um longínquo feixe de luz que desconhecemos em sua maioria. Corremos atrás do impossível e do improvável... na esperança de que algum dia em algum lugar alguém possa provar que é exatamente o contrário.

“O amor é uma espécie de preconceito.
A gente ama o que precisa,
 ama o que faz sentir bem,
ama o que é conveniente.
Como pode dizer que ama uma pessoa
Quando há dez mil outras no mundo
Que você amaria mais se conhecesse?
Mas a gente nunca conhece.”
(Charles Bukowski)