A gargalhada gostosa de uma criança escutada ao fundo. O jeito de andar altivo daquela mulher elegante. O refrão de uma música ou uma frase escutada que insiste em não sair da cabeça. São dessas pequenas coisas que partem a maioria dos textos aqui publicados. Pequenas coisas que acontecem todo dia à todo momento. Comigo, não necessariamente comigo, com você e com qualquer outra pessoa que se arrisque no perigoso movimento de respirar. Um movimento simples e corriqueiro, tal qual lavar roupa no final de semana.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Essa coisa de sentimento

                Ódio. Não pensei que pudesse sentir isso tão claramente. Sim, não se trata de um ódio puro, pois é um ódio derivado de amor, na verdade ambos estão imiscuídos. Eu não sei o que pensar, nem como agir. Não sei nada sobre nada, só sei que não estou me sentindo nenhum pouco bem. Ora vejam só o que ela conseguiu, quem diria...devoção pode se transformar em danação, acreditem. O pior é que sei que toda essa firmeza que sinto agora pode se esvair em questão de segundos ao lhe ver novamente, o pior de tudo é não ter o menor controle sobre isso. Todos os meus amigos me dão conselhos no sentido de evitar, de ir numa direção oposta e de virar as costas para ela, já está muito claro o seu jogo. Acontece que eu não sou assim, eu não sou sensata. Eu gosto de riscos, gosto de testar este pobre coração vagabundo. Gosto de ver as atuações alheias e, realmente, não sei jogar xadrez, pois não consigo esperar pacientemente por um próximo movimento. Eu quero ver as reações imediatas, o meu jogo é outro, talvez roleta–russa.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Minha avó não mora aqui

Minha avó não mora aqui, minha avó mora muito longe, a cerca de dez décadas atrás. Em termos históricos, de tempo absoluto, nem é tão longe assim, mas em termos de pessoas é uma distância incomensurável. Ela não mora ali na esquina, nos anos 80, onde vez por outra nos arriscamos a dar uma volta; também não mora nos anos 30, aquela década que visitamos com um pouco mais de sobriedade. Nem mora nos loucos anos 20, rico em simpatia e esperança. Ela mora numa década bem distante, numa década na qual se ousava usar uma tal de simplicidade, na qual esta ainda estava na moda, não a moda dos 140 caracteres, não essa simplicidade, esse nível de...sofisticação.

     Vejamos nós hoje, tão “in”, tão “on line”,tão “ conectados”, precisamos de um arsenal de parafernálias para nos comunicar, um aparato infinito de cores, de nomes, de luzes, de “pod’s”, de “redes sociais”...essa foi a estranha e esquisita forma que encontramos para nos encontrar, uma interligação com um sem-número de coisas entre nós. Décadas e décadas de evolução tecnológica nos trouxeram a isso. Décadas e décadas atrás, tão longe quanto habita a minha querida avó, eles também inventaram uma tecnologia baseada na simplicidade e que alcançava um altíssimo grau de sofisticação, e tudo isso sem utilizar um único algarismo ou caractere: a tecnologia do abraço.